Pular para o conteúdo principal

GRANDE ELENCO – SIMPLES COMO UM OVO OU UMA BOMBA NUCLEAR

Não era a primeira vez que ele a atendia, e nem era a primeira vez que se detinha diante às imagens dos quadros da sala. Mas era a primeira vez que ela concordava em sair do quarto, da cama, para ser mais exato, para uma pequena caminhada pelo corredor, passando pela sala e indo à sacada do sobrado.

Então eles iam passando diante às tais imagens da sala, quando ele comentou, a fim de nutrir a empatia, o que é indispensável numa sessão de Fisioterapia, que eram belas as imagens. Uma, numa tapeçaria emoldurada em madeira escura e coberta por vidro, como um quadro; nela havia a imagem das ruínas do ataque nuclear à Hiroshima, o Memorial da Paz de Hiroshima, ou Cúpula da Bomba Atômica. São as ruínas do Antigo Centro de Exposição Comercial da Prefeitura de Hiroshima, ruínas da construção mais próxima ao epicentro da bomba nuclear a permanecer parcialmente de pé após o ataque, transformado num símbolo em memória às vítimas de 1945. Uma imagem fortíssima, que, sem dúvida, induz a refletir quanto ao significado daquilo tudo para aquele casal de japoneses idosos residentes naquela casa, que receberam a trágica notícia aqui no Brasil. Ela olhou a gravura e nada disse: "Morreu muita gente lá".

Dois passos à frente, pararam novamente. Agora diante um quadro em tinta guache, no qual se via a imagem do Monte Fuji. Ele reconheceu a imagem e perguntou se era mesmo o famoso monte, ao que ela respondeu que sim e acrescentou: “Eu estive lá.”. Ele demonstrou admiração e interesse pelo fato e perguntou do quanto seria belo presencialmente. Por um momento, ela nada acrescentou ao seu comentário. Fez uma pequena pausa. Alinhando-se no andador, tomou fôlego e, inclinando a cabeça para melhor olhar o quadro, entrou por outra vertente: “Lá eles cozinham ovo com o calor que sai do chão”. “Interessante!...”, disse o fisioterapeuta. “Eu comi ovo lá”, ela completou. “E era bom?”, perguntou o rapaz.  “Era ovo”, disse ela, e seguiu para completar o curto trajeto até a sacada.

Comentários

  1. Que texto legal, gostei do final " Era ovo." haha
    Fisioterapia deve ser bem interessante né? :)
    Obrigada pelo carinho em meu blog.
    Beijos. ♥

    Diário da Lady

    ResponderExcluir
  2. Oi Jefh!
    Uma mistura de imagens enquadradas, fez com a memória da pobre senhora se transformasse num omelete nuclear... estarei enganada?
    ;-)

    Abração
    Jan

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Jan, na verdade trata-se apenas de uma narrativa com alguma descrição. Algo simples do cotidiano que achei de tornar em texto. Beijo!

      Excluir
  3. Linda narrativa.. Existe beleza no cotidiano, tudo depende apenas da maneira como o interpretamos. Beijos!

    ResponderExcluir
  4. Olá meu caro estou retribuindo sua visita, ainda que meio tardia. Gostei muito de ler sua postagem. Beijinhos.

    ResponderExcluir
  5. Parabéns pelo Blog, Jeferson, vim muito depois do seu comentário no meu, me perdoe, mas você tem muito talento! Adorei!

    Obrigada pelo contato, pelo carinho, temos mesmo que nos unir nesse meio tão difícil, o de escrever e ser um escritor.

    Beijos
    Beth Valentim
    Só para você lembrar quem eu sou...
    http://bethvalentimcoisademulher.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  6. Olá querido, vim retribuir seu carinho. Adorei a narrativa, inclusive, a pequena citaçao da fisio, eu curso fisio <3 "era bom ?" "era ovo!" HAHAHAHA adorei o final, mas o ovo era bom ? HAHAHA
    beijos!

    ResponderExcluir
  7. O s olhos sempre nos permitem ir onde queremos.
    Seja pelo quadro na parede, ou pela narrativa no blog.
    Belo texto, abraço!!!

    ResponderExcluir
  8. Retribuindo sua visita, um poco tarde mais está valendo! Muito bom seu blog, vou visitar sempre :)

    http://recuso-me-a-afundar.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  9. Olá, como vai?
    Vim diretamente a você para lhe agradecer muito pelo comentário que vc deixou no meu blog em: http://semacucar-porfavor.blogspot.com.br/2012/07/chongas-fotos-diversas.html e lhe convidar a conferir meus novos desenhos. A maioria se encontra em: http://semacucar-porfavor.blogspot.com.br/2013/12/meus-rabiscos.html
    Obrigada desde já.

    ResponderExcluir
  10. Bom, Jefão!!

    Não tem como ler seus textos e não ficar pensando e pensando depois....ainda estou!

    Abraço!

    ResponderExcluir
  11. Jeferson,

    Belo texto! A delicadeza da protagonista, alguém que traz consigo a triste história de uma guerra. Lembrei de meus antepassados europeus, dos quadros que herdei de minha mãe e pendurei na sala de minha casa. São tantas as histórias que os imigrantes tem pra nos contar! Texto sensível e muito bonito. Parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que coisa linda, Cláudia! E que bom que compartilhou aqui. Um grande beijo!

      Excluir
  12. Estou gostando muito dos seus textos, grande talento você tem.
    Vou tentar vim ler seus textos sempre que puder <3
    Beijos
    http://umaleitoravoraz.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  13. Jeferson todos esses textos é você quem escreve?

    http://danielleaguiar.blogspot.com.br

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comente. É isso que o autor espera de você, leitor.

Postagens mais visitadas deste blog

Cartas a Tás (20 de 60)

Ituverava, 30 de junho de 2009 Aqui estamos, Tás. Eu e essa simpatia que é Lucília Junqueira de Almeida Prado, autora de mais de 65 livros publicados, capaz de recitar poemas de sua autoria compostos com cantigas de roça, bem como poemas de Cora Coralina, feito uma menina sobre o palco. Estive novamente na feira do livro, engoli meu orgulho de vez e abracei a causa. Fui lá não para vingar-me, com críticas sobre o fabuloso evento, nutridas por minha derrota no prêmio Cora Coralina, mas sim, para divulgar a campanha Cartas a Tás, que agora ganhou um slogan; “Restitua a cidadania do menino encardido que ficou famoso e apátrida”. Tás, você é de Ituverava e Ituverava é sua, irmão. Espero que aprove, meu mestre, pois para servir nesta batalha tive que ser um bom perdedor. E não é bom perder, isso aprendemos nos primeiros anos de existência, acho até que já nascemos com este instinto, pois quando uma criança toma por força algum objeto que por ventura esteja em nossa posse, qual menino não se

O Verbo Blogar

O Blog, á nossa maneira, á maneira do blogueiro amador, blogueiro por amor, não dá dinheiro; mas dá prazer. Isso sim. Quando bem trabalhado dá muito prazer. Quando elaboramos uma postagem nos percorre os sentidos uma onda de alegria. Somos tomados por uma euforia pueril. Tornamo-nos escritores ou escritoras que “parem” seus filhos; tornamo-nos editores; ou produtores; ou mesmo jornalistas, ainda que não o sejamos; tornamo-nos poetas e poetisas; contistas e cronistas; romancistas; críticos até. Queremos compartilhar o quanto antes aquilo que criamos. Criar é uma parte deliciosa do “blogar”; e blogar é a expressão máxima da democratização literária – e os profissionais que não façam caretas, pois, se somarmos todos os leitores de blog que há por aí divididos fraternalmente entre os milhões de blogs espalhados pelo grande mundo virtual, teremos mais leitores que Dan Brown e muitos clássicos adormecidos sob muitos quilos de poeira. Postar é tudo de bom! Quando recebemos comentários o praze

O Cavaleiro Da Triste Figura

Há algum tempo que conheci um descendente do Cavaleiro da Triste Figura. Certamente que era da família dos Quesada ou Quijada; sem dúvida que o era; se rijo de compleição, naquele momento, como fora seu ancestral, eu duvido; porém, certo que era seco de carnes, enxuto de rosto e triste; e como era triste a figura daquele cavaleiro que conhecí! Parecia imensamente distante dos dias de andanças, de aventuras e de bravuras; se é que algum dia honrou a tradição do legado do tio da Mancha. Assemelhava-se a perfeita imagem que se possa configurar do fim. O homem contava mais de 80 anos por aquela ocasião. Era um tipo longilíneo, de braços, pernas e tórax compridos, tal qual me pareceu e ficou gravada das gravuras a figura do Cavaleiro da Triste Figura. Seu rosto longo, de tão retas e verticais as linhas, parecia ter sido esculpido em madeira, entalhado. Um nariz longo descendo do meio de uns olhos pequenos postos sob umas sobrancelhas caídas e ralas, dando aí o ar de grande tristeza que me c