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Mostrando postagens de setembro, 2012

BRB - NECRÓTICO

O quê dizer? Como explicar o terrível fato ocorrido durante o período de não mais que quinze minutos de sua ausência? E de quem era a culpa afinal, se todos os dias Bob/Rock/Blues tomava o seu banho de sol das nove na cadeira de descanso da garagem que também é alpendre? E o fiel cão Kuduro sempre ficou ali ao pé do decrépito dono. Latia para todo e qualquer que por ventura se aproximasse do portão usando a calçada ou até mesmo a rua à frente da casa. Se o individuo parasse então, aí sim o cão desatava a ladrar numa histeria demasiada até mesmo para um bicho primitivo como aquele. Macarrão, azeitonas pretas, manjericão, tomates maduros e o iogurte natural, e mais as laranjas que haviam acabado. Quanto tempo se leva para apanhar essa meia dúzia de itens em um supermercado aonde se vai ao menos duas vezes toda semana, mês após mês, por mais de três anos? E o supermercado ficava a apenas duas quadras e meia da casa do patrão. Cinco minutinhos para ir e, à passo apertado, instintiva

O BURACO DO COLCHÃO

Felício, sem um motivo para ti ela partiu, é verdade, é fato, porém, sem um motivo para ela, não partiria... E se não fosse o motivo, Felício, ah! como ela lhe fazia bem nesta vida, amigo. E você agora nem alcança o motivo dela ter ido, não é mesmo? Triste isso. Infeliz. Paga o preço do omisso aquele que é apenas distraído. Nada é justo, em se tratando disso. Talvez ela tenha acumulado motivos como quem guarda o dinheiro para a passagem de ida de moeda em moeda com o troco do primeiro pão do dia, de troco em troco de pão. Se fosse o trigo do pão, diria ter sido de grão em grão, sem gastar vintém, sem despender tostão. A alegria dos últimos dias, Felício, o que lhe fez pensar ser um gozo de felicidade plena essa sua vidinha, era o que você via enquanto Helena estrangulava um a um os bichos que lhe devoravam o riso para cumprir o papel de feliz ao seu honroso lado, meu caro. Felício, você foi lento no ponderar. O que foi isso? Não se deixa dormir tanto a quem se quer acordada.

AO CARPINEJAR PELA ESTRADA

Penso que não há certeza no desamor por unanimidade, mas há sim uma grande dúvida... A certeza seria libertadora, uma dádiva, uma benção. A dúvida é o que nos ata... E atados vamos. Pior seria não irmos. Ficarmos. Ficaríamos logo no início da infância, antes mesmo do terreno das memórias, ou nos primórdios da memória, memórias de fraldas. Ou na lembrança de Fanta Uva de algum colégio primário, quem sabe, como ocorreu ao poeta Carpinejar. Na memória furtiva do escritor, encontrei um paralelo a mais. Também, assim como o escritor, sou adepto à regressão por Fanta Uva. Contudo é sempre ao mesmo ponto que retorno, à minha São Caetano do Sul natal... A gente finge que cresceu, que aquela criança morreu, que somos irremediavelmente adultos... Um dia, quando velhos e faltos de auto controle, a criança salta e nos tomam por loucos... Loucura sim é passar pela vida fingindo e mentindo que não somos mais meninas e meninos, como se a vida fosse um passeio por fases...   “Criança di

O TREINAMENTO [O AR CONDICIONADO]

A sala era grande e o ar condicionado extremamente potente. Enorme daquele jeito, uma verdadeira aberração do antônimo de natureza. Talvez, todos nós que estávamos nas primeiras seis cadeiras do lado de frente para o ar condicionado, talvez todos nós saíssemos daquele encontro resfriados. E alguns poderiam até mesmo evoluir com pneumonia comunitária grave e, quem sabe, alguém poderia até morrer por conta desta pneumonia infeliz adquirida em um treinamento da empresa, indo a óbito, conforme gostam de dizer os profissionais do ramo que, apesar de usar o termo, não se atrevem a criar o verbo obituar, o que seria muito prático e adequado. Haja visto: ‘Seu Fulano de Tal da Silva, do leito 8, e oito é símbolo do infinito, obituou’. Mas eu precisava fazer algo. Não havia como sair do círculo formado pelas cadeiras ocupadas, sem atravessar à frente da palestrante, o que seria uma imensa falta de educação, e assim interromper a palestra. E, ao menos que me tirem do sério, sou sempre educ