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Mostrando postagens de abril, 2011

A ONÍRICA COMPETIÇÃO DE ARMELAU

Ao saber que havia outro trabalhando em seu lugar, Armelau sentiu a fria sombra do fantasma do desemprego pousar sobre sua pessoa. Quando deixou a empresa por síndrome do túnel do carpo bilateral, saiu convicto de que aquela era a decisão mais acertada. E nos primeiros dias até achou confirmar-se o acerto de sua decisão. Contudo, com o passar do tempo, – e o tempo é o senhor absoluto de todas as ações humanas – Armelau viu pouco a pouco enfraquecer-se a convicção em seu propósito. Distante da movimentada rotina de trabalho, Armelau encontrou-se ocioso e solitário. Logo lhe sobreveio uma sensação de vazio, de improdutividade, de tédio... Os dias tornaram-se longos e enfadonhos, monótonos, medonhos. Nas cadeiras de espera para a perícia médica, sentiu-se humilhado – não que lhe impusessem algum vexame naquelas ocasiões. Seu mal estar provinha mesmo era da ação de ir até ali provar a veracidade de sua incapacidade para o trabalho, de sua invalidez temporária, justamente em dia e horário d

O ARTICULISTA PSICOGRAFADO

Eu nunca havia publicado um texto em um jornal. O primeiro foi por acaso. Morreu uma pessoa muito querida, fiz um poema de despedida, compartilhei com os colegas, eles decidiram publicar. Fiquei surpreso. Fiquei ainda mais surpreso quando o jornal me convidou para assinar uma coluna em sua contracapa. Disseram que eu seria ‘articulista’. Então, eu pensei: “Nossa, serei um articulista do jornal de minha cidade...” E em seguida concluí o pensamento: “Mas o que é o um articulista?”. Bem, até aquele momento eu ignorava que havia um termo que denominava o cara que escreve artigos. Ar.ti.cu.lis.ta s2g. Autor de artigos de jornal, revistas, e o caramba (Aurélio). Durante algum tempo, - por pouco tempo na verdade - foi legal esperar chegar o jornal em casa para ver como o meu texto havia ficado nele. Mas havia um problema grave nisso. Toda vez que eu relia um texto de minha autoria, como ocorre ainda hoje, descubro algum problema, alguma imperfeição. No blog, eu tento arrumar, no jornal não da

A ONÍRICA VIDA DE ARMELAU

Era um dia comum como tantos outros dias de trabalho comum na vida do funcionário Armelau. Com o céu nublado, caía uma fria garoa intermitente sobre os telhados marrons lodosos e o pavimento cinza escuro. A sala de Armelau ficava onde fora a sala de estar de uma antiga casa adaptada pela empresa de papeis na qual ele trabalhava. Sentado em sua mesa, Armelau ajeitou alguns papéis, abriu uma pequena gaveta da sua escrivaninha, da qual retirou um pequeno embrulho em papel kraft. Em seguida, fechou-a e volveu a minúscula chave, duas vezes. Fechou também algumas páginas em que navegava na web. Deixou carregando um programa de dados que estava baixando desde a primeira hora de serviço. Naquela manhã a internet estava especialmente mais lenta do que de costume. Com um esforço das pernas, empurrou a cadeira com rodízios para trás, descalçou os sapatos, depois desafivelou o cinto. Também afrouxou o nó de sua gravata enquanto observava fixamente a barra de progressão do download do programa.