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Mostrando postagens de dezembro, 2010

DOIS ANOS DE BLOGAGEM

Vinícius de Moraes disse certa vez em uma crônica (O exercício da crônica): “O ideal para um cronista é ter sempre uma ou duas crônicas adiantadas... Mas se ele é um verdadeiro cronista, um cronista que se preza, ao fim de duas semanas estará gastando a metade do seu ordenado em mandar sua crônica de taxi...” Então, finalmente decidi começar o meu último texto do ano. Uma crônica no último dia de mais um ano que termina, e, coincidentemente, o meu blog completa dois anos amanhã, dia primeiro. São mais de duzentos textos e fotos de minha autoria.Tenho imenso prazer em ver o curso deste trabalho. E quem é blogueiro sabe, dá trabalho... Mas é um trabalho muito prazeroso. É o momento em que um sujeito comum, como eu, sente-se um artista. Durante este que foi o meu segundo ano de blogagem, procurei por todos os meios disponíveis desenvolver a minha escrita. Fiz leituras com a máxima atenção ao estilo dos autores. Li jornais, colunistas, revistas. Assisti à televisão com olhar crítico e aten

CONSUMISMO

Faz tempo que a violência do consumismo chegou até mim. O meu amigo levou um tiro. Ficou paraplégico. Mas antes havia enlouquecido. Decidiu ser bandido. Invadiu casas vazias e roubou bens de consumo, porcarias. Maldito consumismo! Ele sim foi consumido por toda essa porcaria. (Enjoy The Silence – Depeche Mode) Era filho de família humilde. Tinha tudo. Era até sócio do melhor clube da cidade... Poderia ter feito faculdade. E nunca precisou trabalhar. Seu pai lhe bancava com modéstia, mas em tudo que realmente precisava. Seu pai era operário. Sua mãe costurava para fora. Morava em casa própria. Sem luxo, tinha uma vida tranqüila. Na adolescência ele roubava era a atenção nas festas do clube. Era ele quem lançava os passos de dança que acabavam de surgir. (Blue Monday – New Order) No serviço militar obrigatório era um cara que agradava a todos. Presença certa nos churrascos, alegria nas guardas, um bom camarada. Dono de um sorriso largo. Sorria fácil. O cara também fazia sucesso com as g

UM CONTO NATALINO

Três palhaços cabeludos e magros saltaram do opala preto de vidros escurecidos por película, quando três crianças também magras subiam a rua íngreme da creche Lar Abílio de Souza. Os palhaços já estavam prontos para o espetáculo que abrangia números circenses, tais como malabarismos, acrobacias e palhaçadas, é claro. Pararam por um instante para terminar um cigarro que dividiam. Olharam de relance para as crianças que chegavam diante do portão da secretaria da instituição e foram ter com a diretora, que lhes fez o pagamento adiantado. Coisa pouca. Cachê minguado. Algo que certamente consumiriam em algumas cervejas na noite que sucederia à manhã do espetáculo. O carro da empresa de bens alimentícios Flábio Brasil Ltda. estacionou logo atrás do opala dos palhaços. Trazia alguns brinquedos e alguns doces, os quais seriam entregues pelos funcionários colaboradores do projeto Natal Melhor. Algo que a empresa praticava como parte de uma política de assistência e melhoria da qualidade de vida

A INFELIZ PROCURA POR UMA RACHADURA

Ensimesmado, como diria Machado, ensimesmado ele ia ao encontro do nada. Era um sujeito nem gordo nem magro, nem cabeludo nem calvo, nem alto nem baixo. Era jovem, bastante jovem. Prestes a completar dezenove anos de idade. Olhou para a pintura que há muito estava fixada na parede que recebia de frente quem subisse o primeiro lance de escadas. Uma pintura estranha, diga-se. Não era apenas paisagem. Não era figura nítida de um ser, nem de pessoa. Não era pintura abstrata, mas dava margem a interpretações várias. Uns diziam que era um cachorro vira latas, outros uma onça parda, havia ainda quem dissesse ser um lobo magro, ou uma raposa, um gato... Ele olhou e pensou: “Que coisa mais estranha!” Havia recebido a incumbência de encontrar e mostrar ao pessoal da manutenção uma rachadura que havia por de trás do quadro. Não precisou de escada para alcançá-lo. Colocou-se nas pontas dos pés e o tomou com as duas mãos trazendo-o para diante de sua face. Agora, com o quadro nas mãos, a figura dis

O RIO DE JANEIRO CONTINUA LINDO

Um amigo leitor me perguntou por que é que eu não tratava em meu blog de assunto tão urgente em nossos dias como este que vem dominando os noticiários nas últimas semanas. Eu respondi que todos já haviam tratado o suficiente. De mais a mais, eu não queria mesmo falar do narcotráfico, da guerra do tráfico, das tropas de combate de elite ou de araque. Afinal, as ervas que servem de matéria prima para o produto final continuarão recebendo insumos agrícolas; continuarão sendo plantadas e cultivadas; colhidas e beneficiadas, processadas; transportadas e distribuídas; comercializadas no atacado e no varejo; e finalmente consumidas por consumidores ávidos, viciados ou os tais que fazem uso “recreativo”. Então, meu amigo insatisfeito questionou-me; “Mas e o Rio de Janeiro?” Bem, eu preciso dizer que, com uma estrutura dessas que acabei de citar, ninguém precisa do Rio de Janeiro para traficar? E já que eu toquei no assunto, disse ao meu amigo que acho a sociedade muito tendenciosa. Diante dos