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Mostrando postagens de março, 2010

Ilusão, Desilusão e Sonhos

Tomei um café preto, quente e doce Peguei uns papéis rotos, manchados e amassados Fui pela rua larga, movimentada e famosa Cheguei diante do prédio grande, antigo e sombrio Senti as mãos trêmulas, inquietas e suadas Subi pela escadaria escura, longa e demorada Cheguei à sala do editor fumante, magro e carrancudo Estendi os meus poemas sujos, amarrotados e úmidos Ele leu com desdém, pressa e descaso Olhou-me de cima abaixo, reparou nos sapatos e no penteado Disse para que eu voltasse outra hora, noutro dia e noutra ocasião Perguntei se ele havia lido, compreendido e apreciado Ele não sorriu, não respondeu e não fez caso Eu pedi para que ele não gastasse mais tempo, não iludisse e enganasse Ele foi direto, categórico e insensível Falou que minha poesia era comum, mais uma e nada diferenciada Tomei meu poema mais querido, mais lido e comentado nos meios desprestigiados Li com a voz embargada, amarrada e arrastada Ele

O Diário de Bronson (09 - Bronson Sem Fome)

Foi difícil para Bronson admitir, mas nos dias em que a fome não lhe incomodou... ele... não emagreceu nada. Pior. Houve quem levantasse suspeita de que Bronson teria até engordado. “Devo estar me fraudando”. Pensou Bronson e anotou em seu diário. Seria Bronson um fraudulento, ou um reeducando de araque ou um homem de conduta dubitável; um sabotador de si próprio? Seria? Seria? Ã?

O Diário de Bronson (08 - 30 Dias De Propósito)

No princípio, Bronson disse “basta de engorda”. Naquele instante vivia um momento crítico; ia ao sabor da glutonaria e já pesava “98.55 kg”, com 1.80 de altura; era um recém obeso, ajustava um IMC* de 30. Bronson mudou de atitude, e viu que a reeducação alimentar era bom; e fez separação entre a disciplina e a indisciplina; Bronson almoçou sólidos num prato de sobremesa e jantou praticamente líquidos num prato de sopa. Minguou a sobremesa e fartou-se de folhas. Tomava mais água, limonada, chá, e comia umas poucas torradas nas ceias para não dormir com fome; comia mais frutas; respeitava os horários e, por conseguinte, os intervalos das refeições. Errava ocasionalmente, caia, erguia-se e seguia. Na quarta semana da reeducação, Bronson, corria três vezes por semana cerca de trinta minutos por vez; e pedalava outras duas vezes, os mesmos trinta minutos; e fazia musculação também três vezes por semana, por trinta minutos inclusive. Bronson subiu à balança sem muita confiança e desceu com u

Conjuguemos os Cônjuges

Agora mais, se eu quiser vejamos além. E, Eu miei Tu miaste Ela miou Nós miamos Vós miastes Eles miaram; e por quê? Obs. Não me perguntem nada, pois eu não saberia responder. Terei a humildade, que não me custa, de admitir que esse poema veio-me ao lembrar as conjugações verbais, as provas de gramática das professoras sem ou com paciência, e deste verbo que não me lembro de um dia ter conjugado em sala. (sorrio). Veio-me também de pensar que quando miam está tudo bem, assim como quando latem a coisa não está boa, e ainda está pior quando rosnam. Mas não me perguntem nada, e se der vontade digam o que quiserem. Estou ansioso para ler todos que se sentirem impelidos a comentar. (sorrio novamente). Há de convir que a coisa seja mesmo de rir.

COLDPLAY

João Gusmão era de 27. O João era muito velho. Um livro com a idade do João teria todas as paginas amareladas, teria avarias causadas por traças e teria uma poeira insuportável. Eu que sou alérgico, teria uma crise das bravas com um livro tão velho e empoeirado; precisaria de máscara para suportá-lo. Ainda pensando na idade do João, uma roupa com essa idade seria completamente gasta ou completamente antiquada, ultrapassada, e certamente empoeirada. Era uma quarta-feira comum, sem nada diferente na agenda; apenas rotina. Eu havia tomado um bom banho, mas... bem, antes do banho eu havia acordado é claro. Havia acordado, feito minha higiene oral, minha higiene facial e ido comprar pães para o café matinal. Pão fresco é uma delícia. Enquanto eu me punha a caminho da padaria, o João amanhecia acordado e respirava com alguma dificuldade. Tomei meu café com muito gosto, muito prazer. Conversei bem humorado com os meus queridos que á mesa estavam. João estava lá. Lá em seu lugar. Havia muito q

O Diário de Bronson (07 - Lamentações de Bronson)

Das paginas do diário de Bronson propriamente dito. Na integra: 07 de Março - Esta semana terminou e dou graças por não ter engordado. A fome quer fazer morada em meu dia, quer habitar meu ser em definitivo. Às vezes penso se é possível viver com fome por vontade própria, então me lembro que estou alimentado, lembro-me do artista da fome de Franz Kafka, lembro-me de um texto que reli recentemente que conta do homem que viajou para cumprir uma nobre missão, e para tanto se submeteu a uma dieta baseada em mel silvestre e gafanhotos; este homem caminhou por dias e chegou ao seu nobre objetivo. Penso no exemplo dos homens que se alimentaram do maná durante quarenta anos de peregrinação pelo deserto. Penso nas crianças da Somália, da Etiópia, do Nordeste, penso, penso, penso... Na segunda eu fraquejei pela primeira vez. Fui um patife. Por dois filés acebolados me corrompi. Naquele dia Frida havia preparado uma travessa de filés com cogumelos e cebolas fatiadas. "Oh, fria Frida! Não sou

O Diário de Bronson (06 - Sabotagem)

Bronson ao chegar a sua casa não comentou nada sobre a conversa que teve com o Dr. Mendelson. Fato é que, não lhe agradou o teor do dialogo. Aquela conversação ao telefone havia dissipado a energia adquirida pela discreta redução do peso. Frida notou que o marido voltara apático do encontro, um tanto abatido até. _Foi tudo bem, Bronson? Ela quis saber. _Sim. Respondeu Bronson e Frida satisfez-se. Naquela semana que seguiu, principalmente no início, Bronson sentiu um pequeno abalo em sua confiança. Ele já havia mudado muitas coisas em sua rotina alimentar, contudo sempre alimentou a crença de que Dr. Mendelson lhe ofereceria uma dieta milagrosa ou coisa assim. Bronson sempre quis uma dieta milagrosa. Não queria remédios, mas uma boa dieta isso sim. Frida era uma boa esposa, porém não era pessoa com que se contasse em se tratando de ambição de emagrecimento. Ela já havia tentado por diversas ocasiões emagrecer, mas tinha sua própria maneira de pensar; era muito apegada aos hábitos de com

Entre Uma Refeição e Outra.

Eu vinha por uma imensa rua consumindo com os olhos. Consumia muitos produtos. Consumia... muitas pessoas... havia muitas pessoas. Assustei-me quando em determinado ponto de bom caminho andado perguntei deslocado ao vento, ao alto, ao acaso, bem ao lado de um transeunte que vagueava na direção oposta a passo largo, bem de fronte ao restaurante Caribalis, qual seria afinal o prato do dia, e ele respondeu-me com a boca cheia de dentes como se a pergunta tivesse sido a ele endereçada: _Você. Assustei-me. Aturdido não pensei direito. Minha reação foi pronta: levei a mão esquerda ao seu queixo, e com a outra o soquei violentamente na têmpora. O homem caiu. Olhei para um lado e para o outro, vi que ninguém notou o embate relâmpago. O arrastei para o interior de um beco e logo depois almocei. Após grande refeição fui tomado por um leve torpor e em um banco de praça acabei adormecendo. Foi a mais prazerosa cesta que já fiz que me lembrasse. Levantei-me surpreso, pois a luz do dia já não era tã

O Diário de Bronson (05 - Enquanto Dr. Mendelson Viaja)

Ao chegar à residência do Dr. Mendelson, Bronson foi recebido à porta por Crisostomo; Crisostomo era um jovem magro, alto e de fala calma e pausada. Era mais que um simples funcionário da casa. Era mordomo, secretário, chofer, procurador e também uma espécie de fiel discípulo dos ensinamentos de Dr. Mendelson. Crisostomo informou que o patrão havia partido de última hora em uma viajem à negócios, mas que havia deixado ordem para ligar em seu telefone pessoal caso Bronson o procurasse. Enfiou a mão no bolso da calça e retirou o pequeno aparelho, teclou e aguardou um instante; disse duas ou três palavras e estendeu o aparelho para Bronson, que pronunciou um decepcionado alô: _Salve meu caro determinado Sr. Bronson! Como está? _Bem, eu creio.Bronson conversava de modo apático diante de Crisostomo que o observava com olhar analítico. _Sr. Bronson, vejo que conheceu o eficiente Sr. Crisostomo. Ele é como um filho para mim. Acredita que este jovem magérrimo chegou a pesar 180 kg? _Não duvido

A Nova Novidade

Todos gostaram da Nova Novidade. Jovens, crianças, adultos, idosos... bem, quase todos. Exceto os chatos. Deus me livre dos chatos! Ainda bem que foi só um ou outro chato que não gostou da Nova Novidade; disseram não haver nada de novo nela. Vê se pode. São mesmo uns chatos de marca maior estes que nunca gostam de Novas Novidades! Tolos, não imaginam como é bom curtir uma Nova Novidade! Deu no rádio. Deu na TV. Às pessoas no trabalho recebiam em seus celulares mensagens anunciando a Nova Novidade, e a internet a divulgou ostensivamente em suas paginas; virou até hit. Os jornais colocaram todos os seus colunistas a papagaiar com entusiasmo e reverência a Nova Novidade. Até as críticas eram em sua maioria positivas, tirando os chatos, é claro. Carros de som conclamavam a todos para comparecer aos grandes estádios das cidades e prestigiar a passagem do fenômeno Nova Novidade. Havia cartazes espalhados por toda parte anunciando a incrível Nova Novidade. A célebre Nova Novidade era sucesso