Edmundo Adeodato era contido por muitos, e com o rosto colado ao solo, sob a sola do pé do capoeira Ronevaldo, disse, por entre os dentes serrados, ao Dr João Jivago: _O Dotô está mais que certo, a solução é botar fim no cabra da praça. E concluiu: _Ele é o culpado por toda essa moléstia da peste, é o filho do Cão, do Tinhoso, do Coisa Ruim.
Em princípio houve um burburinho, um ressoar de vozes, e logo muitos compuseram o coro de “morte ao mendigo fedorento”. Neste momento teve início uma intensa movimentação; decidiram libertar o vingador revoltoso sem sequer saber da opinião de Dr. João Jivago.
Edmundo Adeodato fora agora elevado aos ombros, e eleito líder do grupo. Entre cambaleantes, “vomitantes” e “obrantes”, marcharam mais de setenta pessoas rumo à praça. Os marchantes tossiam nauseabundos através da fumaça que pairava no ar; caras e bocas retorcidas, olhos lacrimejantes e corpos arqueados apoiavam uns aos outros.
Os mais vigorosos ofereciam o ombro por escora aos companheiros mais debilitados; todo o grupo seguia atrás de Adeodato; que neste momento encontrou certo conforto para sua dor pessoal nos braços irmanados do povo.
No caminho muniram-se com paus, pedras, garrafas, tudo o que encontraram. Pelas ruas marchavam e bradavam: _Morte ao...Você sabe quem.
Conforme os populares se aproximaram os policiais os avistaram e, abandonados pelos cães que desapareceram para dentro da fumaça, rapidamente desceram da viatura e puseram-se a correr; bateram em uma retirada desordenada, desesperada. Ao tropeçar uns nos outros caiam e se reerguiam num salto; correram como jamais haviam corrido para um teste de aptidão física, os tais TAFs da corporação; a energia adicional veio ao ver o grupo armado e fora de controle a se aproximar.
Os revoltosos ignoraram completamente o pavor dos policiais. Queriam mesmo era ter de uma vez por todas com o forasteiro.
Porém, lá chegando ficaram petrificados de horror: a praça simplesmente não podia ser avistada em meio ao denso nevoeiro que ali se concentrara; havia desaparecido completamente da vista de todos; conservava grosseiramente seus contornos e exibia braços de fumaça menos densa, que rapidamente se estendiam pelas ruas imediatas, mas estes não se comparavam de modo algum ao quanto era denso o bloco branco sobre a praça.
O grupo que havia partido do hospital neste momento viu-se impotente; teve seu ânimo severamente abatido. Os populares ficaram desorientados, e antes mesmo que alguém pensasse em adentrar aquela cortina de mistério, para ver se dava com o tal cabra, Edmundo Adeodato, valente como ele e só, fora visto pela última vez, e depois teria se precipitado para dentro da névoa para nunca mais...
Ainda hoje há quem jure de pés juntos, por tudo que há de mais sagrado, o ter visto sendo tragado pela súbita baforada, debater-se muito, lutar com imensa bravura, gritar corajosamente afrontas ao forasteiro, e finalmente sucumbir num silêncio precedido por choro e ranger de dentes; teria sido ele, enfim, sufocado pelas mãos sujas do mendigo misterioso, e consumido pelas labaredas que saiam feito a língua de um dragão da boca do nefasto forasteiro. _Pobre Adeodato, morrera como um bravo; cabra valente sem igual! Dizem os antigos ao lembrar os fatos.
No entanto, há outra vertente informativa. Esta afirma ter o homem, na verdade, se precipitado para dentro de um bueiro e perdendo-se nas tubulações, fora tragado pelo esgoto e arrastado pela correnteza do rio, não sendo jamais encontrado.
Após o sumiço de Edmundo Adeodato um vento soprou lento e morno a fumaça sobre as cabeças presentes, a seguir viera uma fedentina insuportável, então saíram todos em disparada, em todas as direções. As pessoas clamavam pela misericórdia divina, pediam perdão pelos seus pecados, confessavam suas transgressões a quem quisesse escutar a metros de distância, chamavam por Deus e pelos santos que lhes ocorriam naquela hora de pavor e desespero. Pouco depois não havia um único revoltoso nas imediações da praça. Todos procuraram afastar-se o quanto puderam.
Um pequeno grupo que se desgarrara da maioria parou mais adiante. Recobrou o que era possível do fôlego e convencionou buscar apoio junto às autoridades religiosas, na esperança de que estas dariam conta de expulsar o tal “mendigo nefasto”, que naquele momento já era de consenso entre todos ser ele o próprio...você sabe quem.
Em princípio houve um burburinho, um ressoar de vozes, e logo muitos compuseram o coro de “morte ao mendigo fedorento”. Neste momento teve início uma intensa movimentação; decidiram libertar o vingador revoltoso sem sequer saber da opinião de Dr. João Jivago.
Edmundo Adeodato fora agora elevado aos ombros, e eleito líder do grupo. Entre cambaleantes, “vomitantes” e “obrantes”, marcharam mais de setenta pessoas rumo à praça. Os marchantes tossiam nauseabundos através da fumaça que pairava no ar; caras e bocas retorcidas, olhos lacrimejantes e corpos arqueados apoiavam uns aos outros.
Os mais vigorosos ofereciam o ombro por escora aos companheiros mais debilitados; todo o grupo seguia atrás de Adeodato; que neste momento encontrou certo conforto para sua dor pessoal nos braços irmanados do povo.
No caminho muniram-se com paus, pedras, garrafas, tudo o que encontraram. Pelas ruas marchavam e bradavam: _Morte ao...Você sabe quem.
Conforme os populares se aproximaram os policiais os avistaram e, abandonados pelos cães que desapareceram para dentro da fumaça, rapidamente desceram da viatura e puseram-se a correr; bateram em uma retirada desordenada, desesperada. Ao tropeçar uns nos outros caiam e se reerguiam num salto; correram como jamais haviam corrido para um teste de aptidão física, os tais TAFs da corporação; a energia adicional veio ao ver o grupo armado e fora de controle a se aproximar.
Os revoltosos ignoraram completamente o pavor dos policiais. Queriam mesmo era ter de uma vez por todas com o forasteiro.
Porém, lá chegando ficaram petrificados de horror: a praça simplesmente não podia ser avistada em meio ao denso nevoeiro que ali se concentrara; havia desaparecido completamente da vista de todos; conservava grosseiramente seus contornos e exibia braços de fumaça menos densa, que rapidamente se estendiam pelas ruas imediatas, mas estes não se comparavam de modo algum ao quanto era denso o bloco branco sobre a praça.
O grupo que havia partido do hospital neste momento viu-se impotente; teve seu ânimo severamente abatido. Os populares ficaram desorientados, e antes mesmo que alguém pensasse em adentrar aquela cortina de mistério, para ver se dava com o tal cabra, Edmundo Adeodato, valente como ele e só, fora visto pela última vez, e depois teria se precipitado para dentro da névoa para nunca mais...
Ainda hoje há quem jure de pés juntos, por tudo que há de mais sagrado, o ter visto sendo tragado pela súbita baforada, debater-se muito, lutar com imensa bravura, gritar corajosamente afrontas ao forasteiro, e finalmente sucumbir num silêncio precedido por choro e ranger de dentes; teria sido ele, enfim, sufocado pelas mãos sujas do mendigo misterioso, e consumido pelas labaredas que saiam feito a língua de um dragão da boca do nefasto forasteiro. _Pobre Adeodato, morrera como um bravo; cabra valente sem igual! Dizem os antigos ao lembrar os fatos.
No entanto, há outra vertente informativa. Esta afirma ter o homem, na verdade, se precipitado para dentro de um bueiro e perdendo-se nas tubulações, fora tragado pelo esgoto e arrastado pela correnteza do rio, não sendo jamais encontrado.
Após o sumiço de Edmundo Adeodato um vento soprou lento e morno a fumaça sobre as cabeças presentes, a seguir viera uma fedentina insuportável, então saíram todos em disparada, em todas as direções. As pessoas clamavam pela misericórdia divina, pediam perdão pelos seus pecados, confessavam suas transgressões a quem quisesse escutar a metros de distância, chamavam por Deus e pelos santos que lhes ocorriam naquela hora de pavor e desespero. Pouco depois não havia um único revoltoso nas imediações da praça. Todos procuraram afastar-se o quanto puderam.
Um pequeno grupo que se desgarrara da maioria parou mais adiante. Recobrou o que era possível do fôlego e convencionou buscar apoio junto às autoridades religiosas, na esperança de que estas dariam conta de expulsar o tal “mendigo nefasto”, que naquele momento já era de consenso entre todos ser ele o próprio...você sabe quem.
Adorei a sua forma de "entrar" e conhecer o meu blog ou seja o meu diário, não é escrito diáriamente porque o tempo não o permite mas é escrito quando a vontade é muito mais forte que a falta de tempo. Tem razão Novembro já lá vai e Dezembro quase, mas são muitos os Km por dia e ao fim do dia o cansaço pesa, mas é bom chegar ao fim de semana e ler que alguem passou por aquele simples blog e achou algo de interessante. Vou segui-lo .... vou lê-lo .... gostei da sua escrita.
ResponderExcluirAo seu dispôr
Ana (escorpiana)
Prazer em conhecer, Ana. Fico feliz que tenha gostado de minha escrita e se proposto a seguir minhas atualizações. Gostei de seu blog e o acompanharei também. Abraço: Jefhcardoso.
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