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Cartas a Tás (29 de 60) Melquíades e Amaranta - II


Ituverava, 17 de julho de 2009


A gestação da moça foi evoluindo normalmente, então, veio um momento delicado para o jovem casal.
A moça passou a repudiar o cantor, e este passava o dia desolado, andando de um canto para outro no quintal, víamos e achávamos melhor não nos intrometer. Seu canto tomou um tom melancólico, ele realmente estava solitário e tristonho.
Era comum o ver passar cantarolando em redor da casa, ou parado em algum canto a contemplar o vai e vem dos pássaros urbanos.
A moça passava o dia em seu leito, levantava-se apenas para alimentar-se ou fazer suas necessidades, seu humor era terrível e nem conosco ela queria contato. Ficamos preocupados, providenciamos algumas vitaminas em sua dieta.
Ao final da gestação ela se apresentava bastante abatida; era visível.
Mas numa bela manhã de outono tivemos a grata alegria de ver uma criança chegar para alegrar ainda mais nossa casa. Era um belo garoto, muito parecido, de certa forma, com seus pais, seu nome era José Arcádio, mas o chamávamos apenas de “moleque”. Moleque isso, moleque aquilo; o moleque era a alegria de todos! Amaranta revelou-se uma ótima mãe, extremamente afetiva e zelosa. Já Melquiades, como pai, parecia ter amargurado algum ressentimento inconsciente pelo período em que fora repudiado pela esposa durante a gestação, e acabou, de certa forma, transferindo isso para o garoto, então ficou meio frio de início, mas bastaram os primeiros contatos para derreter algum gelo que estivesse encapsulado seu bom coração de artista da voz.

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