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Cartas a Tás (30 de 60) Melquíades e Amaranta I


Ituverava, 18 de julho de 2009


Contei-lhe amigo, que temos companhia de um jovem casal em nossa casa? Sim, é um casal que veio hospedar-se conosco a pedido de pessoas amigas, gente muito amiga, as quais não poderíamos em espécie alguma recusar a tal apelo.
No mais tínhamos disponível no fundo de nossa casa um grande quarto com banheiro, que a muito vinha desocupado.
Conheci o jovem casal em casa de Dona Zilá e Seu Ermelindo. Na época dona Zilá dava casa e pensão ao casal, porém Dona Zilá sofreu uma queda ao solo, fraturou o fêmur, e me perguntou, certa vez, durante uma de minhas visitas, em tom confidencial, se eu poderia receber o casal em minha casa por algum tempo. Respondi que precisaria consultar Andréia e que, dependendo do que ela me dissesse, daria a resposta, mas adiantei que era certo que Andréia não se recusasse a ajudar o jovem casal; o que veio a confirmar-se após eu falar com ela.
Na verdade os recebemos com uma boa acolhida. As crianças adoraram o fato de termos visitas, e no mais, onde ficaram instalados, no quarto independente do fundo da casa, deu liberdade a ambas famílias.
O rapaz, pelo que soube, é cantor; seu nome é Melquíades e, passava os dias ensaiando, o que não nos incomodava. Havia algo de tradicional e profissional em seu canto, que me remetia às modas de viola da infância, e os horários em que ele ensaiava não nos incomodava em nada. Ele iniciava bem cedo, logo ao romper da manhã e também terminava antes do entardecer. Já a moça, Amaranta, passava os dias nos afazeres domésticos, me parecia meio apática, mais tarde soube a causa de sua apatia. É que estava em estado gestacional. Ambos se revelaram muito agradáveis e de fácil convívio.

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