Ituverava, 25 de Maio de 2009
Caro Tas, preciso desabafar. Valho-me para tanto de sua atenção sempre pronta a socorrer-me. Aconteceu de hoje eu receber a triste notícia de minha derrota em meu primeiro concurso literário.
Não obstante, já havia sido aconselhado por pessoa sensata a não participar da disputa, ao menos por agora. Com palavras delicadas e sensatas, a nossa querida professora Liéte, lembra-se dela, dos cascudos que ela desferia contra sua cabeçorra por conta de suas incoerências gramaticais? Pois bem, ela vive e goza razoável saúde física e plenas faculdades mentais. Eu a procurei a cerca de minha participação no concurso e ela disse que ainda seria cedo para tal empresa, e que eu deveria ler e observar mais autores antes de arremessar-me de tais alturas.
Mas sabe como sou. Aconselhar-me é perder tempo. Melhor não gastar verbo em tal intento. Sou um tanto quanto avesso aos conselheiros humanos. Prefiro ouvir o inaudível, o invisível, a intuição, o Divino. Foi então que saltei do penhasco das vaidades literárias sem medir a profundidade do percurso. Irmão Tas, se não sucumbi na queda, foi num fosso repleto de leões famintos que aterrissei já combalido pelo impacto da mesma.
Essa gente que lida com os postulantes a escritor, do contrário que se possa imaginar, é na verdade desprovida de sensibilidade e delicadeza. Gente que não tem sequer o capricho de enviar uma lista de colocações para além dos três vencedores em cada categoria não é digna de minha admiração.
Mas é claro que eu gostaria de saber em que afinal resultou meu laborioso trabalho de formulação dos textos e minha expectativa até o triste desfecho do concurso, meu irmão. E o afago do qual tanto necessitei veio da atenção do amigo, que soube alegrar-me em meio ao fosso dos leões de minha dilaceração moral.
Agora à noite, tive a suave alegria de ler uma linha de resposta sua em seu próprio blog a um comentário meu. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Guardarei o link para mostrar aos meus trinetos, caro amigo. Assim sendo, eu, que hoje dormiria muito triste e infeliz, na pia, e com as galinhas, como dizemos por aqui, decidi que devo assistir a seu ingênuo programa na televisão. Farei como uma maneira de confortar-me ao ver sua cara redonda e amiga na tela, e assim terei a certeza de que há alguém daqui, que venceu lutas encarniçadas contra os numerosos leões da vaidade e sabe lá quais feras ainda mais vorazes, serpentes enormes, por exemplo, torce sempre por mim.
A propósito, você seguiu meu conselho separando-se dos livros de auto-ajuda e dos best sellers? Franz Kafka também não lhe fez bem, lembra de como ficou ainda mais insectofóbico? O conto “A Metamorfose”, embora eu mesmo tenha recomendado a leitura, é preciso esquecê-lo, bem como “O Castelo” e “O Processo”. Porém jamais se desprenda de “Um Artista da Fome”, pois um homem só está completo quando não despreza sua origem, amigo. Você conhece Jeferson Cardoso, o escritor de nossa terra? Leia-o se puder. Como disse um sábio pintor, mudar de alimento estimula o apetite.
(foto do centro cultural de Ituverava feita por Jeferson Cardoso, o autor do texto acima, a exemplo de todos os textos deste blog. Lembrando que, CARTAS A TAS trata-se de uma despretensiosa paródia do livro de Vincent van Gogh, “Cartas a Théo”)
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