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Mostrando postagens de fevereiro, 2009

DECRUAR UMA EXPECTATIVA (PARTE I)

DECRUAR UMA EXPECTATIVA (PARTE I) Ao ver uma expectativa que venha acompanhada de certa dose, não homeopática, de pessimismo, é sobremodo crua, cruel e primitiva. A ansiedade é fria, transcorre lado a lado com as horas que precedem a certo desfeche encortinado, que já mora a algum tempo por detrás das cortinas. É na verdade a ânsia da alma ansiosa, que se pudesse vomitaria toda aquele mal digerido infortúnio, que causa pequenos disparos do coração; uma leve “ardênciazinha”, fruto de uma molécula qualquer de adrenalina que me escapa às glândulas, contaminando meu sangue, cada vez que penso na causa da expectativa. Com os olhos fixos à porta, outra hora no relógio, sem saber se ela ao entrar me diria o que queria ouvir, e ou se simplesmente me rejeitaria; eu senti naquela manhã o agigantar-se das horas, que na soma de alguns minutinhos já ia parecendo uma manhã daquelas: imensa, longa, gigantesca, cruel, fria e primitiva. Da última vez que a vi, isso na semana passada, ainda me dói a cha

A QUARTA FEIRA DO BRASIL DE CINZAS

A QUARTA-FEIRA DO BRASIL DE CINZAS Mais um carnaval veio, sorriu e partiu Ardeu em chamas e expirou em cinzas. Novamente eu fiquei aqui: _Não pulo por ti... não sorrio contigo... não sou teu... não sou assim. Apenas assisti um pedacinho aqui, outro ali. Há quem lhe espere muito! Dizem que alguns só lhe esperam. E você veio sem falha nem atraso As pessoas brincaram cada qual a sua maneira; Iludidas, alegres, libertas da seriedade rotineira. Fez tantos brasileiros mais felizes em ser! Eu fiquei aqui, não cai nas tuas graças: _Não me dou a ti... nem minha religião me permiti. Mas foram muitas as coisas que vi Vi bonecos gigantes e frevo descendo as ladeiras pernambucanas Vi um farol da barra em Salvador estender-se por uma orla de gente Vi São Paulo sonhar em ser Rio, Vi um Rio ser mais Rio do que sempre. E vi um Machado de cem anos de memórias póstumas Ao lado de um Guimarães com cem veredas de histórias E tudo que vi terminou em cinzas Assim como terminou em cinzas tudo para que sorrira

A NOITE

A Noite A noite é minha amiga intima Mora na rima dos poetas e também na minha rima Esconde em si a claridade quando devora o dia Dama fresca, dona do silêncio que tanto amo Possuidora da escuridão que tanto me assusta Generosa, mostra-me todo céu numa face oculta. Envolve todas as casas em seu longo véu de luto; Esta de preto todo dia, A quem honras com teu supremo luto? Eternamente nos abriga nessa redoma de negrura. O perfume é sereno em tua chegada, Mas ao partir o aroma do orvalho é quem perdura. Geniosa, anda eternamente brigada com o dia! Trava com firmeza a batalha do crepúsculo, E ao alvorecer, vem a promessa de uma nova luta As cidades apaixonadas se enfeitam somente para ver-te, Luminares erguem em tua homenagem Você olha tudo com naturalidade, Acho que beira o descaso; Letreiros, luzes, avenidas, vitrines, carros e mais carros; Tudo, tudo busca agradar-te. A noite é minha melhor amiga, Nela confio o meu sono mais profundo, Retribui-me carregando o cansaço para não sei onde

Gladiator X Besta Fera

Gladiator X Besta Fera O lugar, um destes confins da terra dos sonhos que nem se sabe o nome ao certo; e de fato, só existe na imaginação fértil. O ano, um desses que já passaram há séculos e mais séculos, cujo registro o tornara duvidoso de veracidade, todavia, o fato não vai com o mesmo tom das circunstancias de lugar e tempo, o fato é algo interessante de se narrar, veja como o narro: Durante muito tempo, Gladiator passou por aquele bosque sem ser de fato importunado, talvez fizesse aquele caminho há dez, onze, doze anos quem sabe. Havia sempre em seu caminho uma estranha criatura, que exibia seus dentes afiados e sujos, e rosnava quando via o guerreiro passar. Era uma tentativa de inibi-lo, de intimidá-lo, como fazia com todas criaturas que viviam ou passavam por aquele bosque fabuloso. Mas Gladiator nunca foi homem de se intimidar com grunhidos ou dentes a mostra, na verdade deixava estar. Passava, reparava no comportamento esquisito de Besta Fera, pois assim era conhecida tal cri

O Sr. e o Dr.

Ao ser levado a presença daquele Sr de seus maturados 84 anos, estava na verdade indo rever um bom pedaço de minha infância. Afinal aquele homem de baixa estatura, tórax roliço e finas pernas de passarinho era figura muito frequente nas ruas mais movimentadas de minha terra ha uns 20 anos. Vestido com um jaleco branco sentava com boa postura em sua “motoquinha”, percorria toda cidade com seu jeito lépido. Mas agora ele se encontrava muitos anos à frente daqueles dias; e já não mais conservara sua autonomia para o ir e vir a toda parte. Pior ainda, naquele momento sofria com a recuperação de uma fratura no fêmur, ocorrida após uma queda dentro de sua própria casa. _Quão dura é a realidade do ancião que de andar dentro do próprio lar, pode quebrar-se ao chão, isso quando não se quebra de pé, sem mais nem menos, indo apenas posteriormente ao solo, ao que chamam de fratura espontânea. Mas retornemos ao nosso “continho”. Dia após dia, sessão após sessão, meu novo amigo ancião, recuperava su

Às Três Senhoras

Três idades, três vidas, três histórias... Uma casou-se, teve filhos e netos, bisnetos virão logo. A outra adoeceu, não se casou e nem teve filhos; não terá rebentos de si à sua volta. A terceira, por amor, por caridade, deu sua vida pela segunda; tornou-se fiel cuidadora; um anjo que zela! Três momentos, três vidas, três sonhos... E quem é que não sonha? A que se casou conheceu o lado bom e o outro do matrimônio; A do meio, ao adoecer, amargurou o esfacelar de tal sonho; E a caçula viu passar pretendente, suspirou até, porém fechou as cortinas e entregou-se à caridade completamente. Tuas belezas, minhas senhoras, não acabam; Carnes sim mudam o tempo inteiro; peles ficam flácidas, abrigam rugas; Sei que agora em absoluto não agrado; Porém não venho para tornar a realidade menos severa; E quem pode me censurar por lapidar vaidade em pedra bruta? Agora falo como se encontrasse as três na alma de apenas uma: Teus cabelos já foram fartos e hoje são escassos; Se foram louros como ouro o